Carolina Maria de Jesus nasceu no dia 14 de março de 1914 em Minas Gerais, foi catadora de papel e viveu na favela do Canindé. A autora de pouca escolaridade além desse livro escreveu mais quatro: Casa de alvenaria (1961), Provérbios (1963), Pedaços da fome (1963) e Diário de Bitita (s.d.). De todos “Quarto de Despejo” é o mais famoso, traduzido para 13 idiomas e inspiração para diversas expressões artísticas.
Audálio Dantas foi o “fada madrinha” dessa história. Ainda novo ele foi encarregado de escrever uma matéria sobre uma favela que crescia no bairro de Canindé. Foi aí que ele conheceu Carolina e descobriu que ela podia lhe falar muito mais do que ele imaginava. Ela tinha em casa cerca de 20 cadernos que usava como diário, neles estava retratando não somente o seu dia-a-dia como a realidade das favelas. Inicialmente os escritos foram publicados como reportagem na Folha da Noite em 1958 e logo depois ele, Audálio Dantas, ficou responsável pela edição do texto que daria origem ao livro. As mudanças feitas foram mínimas para não prejudicar a autenticidade da autora, apenas palavras ou gírias incompreensíveis foram trocadas ou acrescentadas uma “legenda”.
Comecei a ler este livro por acaso, estava louca pra ler alguma coisa e não tinha nenhum livro em mãos. Achei “Quarto de Despejo” na minha estante de livros e notei que nunca tinha lido. Só eu que nunca tinha lido ele, na faculdade todo mundo ficou me perguntando porque eu estava lendo esse livro agora. Isso, só me deu forças pra continuar a leitura.
No início fiquei meia perdida, não sabia bem a história desse livro nem sobre a vida de Carolina, mas logo na primeira página percebi que não era atoá a sua fama. Carolina é envolvente, sonhadora e batalhadora. Percebe-se a verdade das palavras dela e a cada momento o tom de revolta, amargura ou felicidade. Ela tem um lado poético tão eficaz, que me fez várias vezes parar a leitura e refletir sobre algumas frases. Por exemplo: “Quando despertei o astro rei deslisava no espaço”. Tem frase mais maravilhosa pra falar sobre o amanhecer do dia?
Carolina também retrata o início das favelas. Ela dizia que as favelas era o quarto de despejo da grande São Paulo, onde tudo que eles achavam que não serviam mais depositam ali. Além da pobreza, da miséria e das brigas nos barracões ela conta sobre seus amores, seus filhos e da inveja que as outras mulheres da favela sentiam ao vê-la ganhando coisas ou andando com um rapaz bonito.
“O livro é a melhor invenção do homem” disse a mulher negra, favelada e catadora. Repleta de preconceitos a sociedade demorou a acreditar que palavras tão sábias vinham de Carolina, chegaram a dizer que o jornalista Audálio Dantas tinha dando um golpe de mestre ao inventar essa história. Todos ficaram calados. A negra, favelada e catadora não tinha estudos da alta sociedade, mas era conhecedora dos livros e jornais. Gostava de ler e escrever. Nem preciso dizer que foi a leitura que abriu porta pra ela né? Nem que através da leitura ela sabia distinguir tudo a sua volta sem ser enganada.
Eu aprendi tanto com esse livro que se você pegar o meu exemplar vai ver o tanto de riscos que tem nele. Ficaria aqui horas e horas escrevendo as frases sábias de Carolina, mas aí você, Futuro Leitor, não vai ler o livro e vai ser contentar com o que escrevi aqui.
Só posso dizer que Carolina me encantou profundamente, suas palavras confirmaram o que sempre pensei: a leitura abre portas, é só você girar a maçaneta.
Karol Barbosa