Por: Karol Barbosa e Letícia Carvalho
Formada em jornalismo, Fernanda Silva Queiroz, teve seu primeiro contato com as artes aos sete anos de idade. Ela conta que estava na terceira séria quando pintou um urso e percebeu que gostava de desenhar e pintar. “Desde então tudo que faço, faço com carinho. Eu gosto de dar as coisas para as pessoas, de dar recadinhos pessoal com algum desenho ou com alguma característica da pessoa”. Fernanda conta, ainda, que com 19 anos começou a pintar roupas. Ela diz que nunca teve condições de comprar roupa de marca e que quando saía para shows, por exemplo, customizava as próprias blusas. Ao falar sobre o assunto, Fernanda lembra toda orgulhosa da blusa que pintou para o show do Olodum e de como as pessoas elogiavam a roupa. “Todo mundo olhava e falava assim: ‘nossa que linda, onde você comprou?’ E eu respondia: Não, fui eu que fiz”.
Após essa fase, ela decidiu fazer alguns cursos, com 20 anos fez um curso de corte e costura e outro de custura industrial. Segundo ela, a ideia era pintar batas e vender e foi isso que ela fez. Nesta época, Fernanda morava no Novo Gama, mas precisou mudar para o Santo Antônio do Descoberto, onde não conseguiu dar andamento aos trabalhos com batas. A jornalista passou a fazer apenas crochês e pinturas nas roupas, mas segundo ela, sempre com relação a pintura. “Sempre desenhei no caderno, sempre tive um caderno pra ficar desenhando e escrevendo. São duas coisas que sempre vem me acompanhando”, lembra.
Fernanda é mãe de três filhos e também faz crochê, desenhos, poemas, panos de prato, colar, roupas, pintura em rosto e tudo que é relacionada a arte. “Minhas vocações são sempre para melhorar a vida destes filhos que tanto amo, também tenho vocação por fotografias, onde torno pessoas sérias em celebridades do sorriso”, relata.
O filho mais velho de Fernanda, Gabriel, é deficiente visual. Ela conta que quando ele nasceu precisou de cuidados especiais e por conta disso precisou passar dois meses no hospital. A artista lembra que tem uma foto dessa época no hospital em que ela está com uma blusa pintada por ela, e que todas as vezes que há vê ela percebe o quanto gosta das artes.
Escute a artista contando sobre os presentes que ela se dá no Dia das Mães: Áudio
Fernanda e as artes
No ano de 2008, Fernanda decidiu que era momento de levar as artes com mais seriedade e que queria começar a pintar telas. Apesar disso, ela não tinha experiência nenhuma no assunto. Com apenas a vontade, foi até uma loja, comprou uma tela pequena e tintas à óleo. “Quando parei em frente a tela percebi que não sabia o que fazer”, conta. Nesse momento, Fernanda lembrou de um livro que leu em que Picasso falava sobre auto-retrato. Ela pegou sua própria foto e pintou. Achou que não estava muito bom e poderia melhorar.
Depois disso, ela passou a fazer aulas de desenho e pinturas nos finais de semana. Quando Fernanda falou para o professor que o primeiro quadro que havia pintado era um auto-retrato ele ficou espantado e disse que ela era apressada. “Ele falou que auto-retrato é técnica para quem pinta a muito anos”, diz. Fernanda fez as aulas até perceber que aprendia apenas a fazer cópias e que estava travada àquilo.
Pintura em relevo
O grande “boom” na vida da artista foi em 2010 na aula de semiótica do curso de Jornalismo. Na aula Fernanda fez um trabalho a respeito de Guernica do Picasso e teve que estudar os símbolos, neste momento ela desmitificou tudo. “Eu percebei que podia dar valor aos meus rabiscos, não só isso, também percebi que eu podia fazer algo em relevo”.
A inspiração para pintar em relevo veio em um questionamento: “Eu estou fazendo o que eu gosto, mas peraí e o Gabriel? Eu tenho que falar para o Gabriel sobre as minhas telas e por que não ele poder tocar?”
Logo depois, Fernanda foi para a loja que compras as telas e perguntou ao vendedor o que ele tinha para pintar em relevo em uma tela e ele apresentou para ela a massa acrílica. “O mais impressionante é que as pessoas que enxergam se sentem atraídas pelo fato de poder tocar uma tela”.
Fernanda já fez exposições na Faculdade ICESP por dois dias, na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) por uma tarde, no Centro de Ensino para os Deficientes Visuais de Brasília e na Escola de Iniciação Infantil no Recanto das Emas em 2014, e em 2015 em um Sarau no Valparaíso de Goiás.
No Centro de Ensino para os Deficientes Visuais em Brasília, Fernanda conta que uma garota com deficiência visual tocou uma das telas e disse: “Tia que bom! A gente passa a ter noção do que é esta foto que tem na sala de todo mundo e que todo mundo fala ‘ali está a foto de fulano e sicrano’, mas a gente não sabe como eles estão posicionados na foto”. A tela que ela tocou se chama “Quem é ele?” É representação de um casal lado a lado como se fosse aquelas fotos antigas. Com uma coisa tão simples pode-se trazer a inclusão estas pessoas. “Eu acho que o grande papel de uma mãe de uma pessoa com deficiência visual é trazer a inclusão, dentro de casa e fora”, conclui a artista.